Com o intuito principal de possibilitar a interação dos conhecimentos teóricos aprendidos em sala de aula com os conhecimentos práticos de campo, alunos do Curso de Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural da UFSCar, Campus de Araras, SP, em parceria com a Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) vão realizar em 9 de junho uma visita técnica às Usinas Santo Antonio e São Francisco, em Sertãozinho, SP, que desenvolvem em suas lavouras o Projeto Cana Verde. A orientação é dos professores e pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente Pedro José Valarini e Luiz Alexandre Nogueira de Sá, os quais ministram a disciplina Manejo Ecológico de Pragas e Doenças.

Segundo eles, o objetivo é conhecer as usinas e mais precisamente as práticas agrícolas e não agrícolas utilizadas nos sistemas de produção da cana-de-açúcar convencional e orgânico, especialmente, relacionadas ao manejo e controle de pragas e doenças.

Projeto Cana Verde

O Grupo Sucro-alcooleiro Balbo teve seu início em 1946, com a implantação da Usina Santo Antonio, no município paulista de Sertãozinho sob o sistema de produção convencional com várias práticas agressivas ao meio ambiente, entre as quais, a queima da cana, a preparação intensiva do solo, o controle químico de doenças, pragas e plantas invasoras, com conseqüências na redução da biodiversidade.

Pensando em alterar esta situação de forte impacto ambiental, a partir de 1986 foi criado o Projeto Cana Verde, com o qual se iniciou a produção de cana-de-açúcar orgânica na Usina São Francisco, hoje considerada a maior usina de açúcar orgânico do mundo — escolhido como modelo de projeto em mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud.

De acordo com os pesquisadores, ambas as usinas perfazem uma área total de 20 mil ha de área plantada, dos quais 13 mil ha são orgânicos. Os pesquisadores informam que as empresas, atualmente, dispõem de laboratórios de produção massal de inimigos naturais no controle biológico de pragas da cana, como a broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) pelos parasitóides de ovos, por meio da vespinha Trichogramma galloi; e de lagartas por meio da vespinha Cotesia flavipes.

Sá explica que “estas vespinhas são fáceis de multiplicação em laboratório e posteriores liberações dos adultos nos canaviais atacados pela praga”. Valarini salienta que na lavoura de cana outras pragas da cultura são controladas biologicamente ou por outros métodos de controle (químico, cultural, feromônios) como a broca-gigante, o percevejo-castanho, cupins, pulgões, cochonilhas; as lagartas elasmo e o curuquerê-dos-capinzais; os besouros pão-de-galinha e rajado-da-cana e o gorgulho-da-cana, além das cigarrinhas-das-raízes e das-folhas, estas controladas pela mosca-predadora Salpingogaster nigra e pelo fungo Metarhizium anisopliae.

Manejo agroecológico

Entre as técnicas de manejo agroecológico das áreas nas usinas estão o melhoramento genético constante de plantas (variedades e híbridos de cana resistentes a pragas e doenças); a formação da biodiversidade (proteção dos mananciais de água e recuperação da cadeia alimentar com aumento de animais, pássaros e aves); o uso de adubos verde e cobertura do solo (estruturação e melhoria da fertilidade do solo); o manejo preventivo de doenças e pragas (uso de inimigos naturais); o aproveitamento dos resíduos da cana (vinhaça, torta de filtro, bagaço e palhada) como adubo orgânico e proteção do solo.

“Estas técnicas de manejo têm contribuído para a redução da emissão de gases do efeito estufa e para o equilíbrio e a sustentabilidade do ecossistema, com valorização do ser humano como um todo nas usinas”, salientam Valarini e Sá. “O Projeto Cana Verde busca aliar produtividade sustentada, que já é equivalente à produtividade do sistema convencional (média de 90-100 toneladas/ha) com a vantagem da preservação e conservação dos recursos naturais”, completam eles.

Eliana Lima, MTb 22.047
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Embrapa Meio Ambiente

Fonte: Embrapa Meio Ambiente